quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Memória, amor e censura




A cena final de Cinema Paraíso, que eu não censurei (não, não fui atacada pela fúria censória que tomou o país), mas que não houve tempo para lhes mostrar. Toto vê a montagem (feita com os pedaços de película censurados, ou seja, cortados dos filmes antes da exibição) que Alfredo lhe deixou.

Os despojos do tempo



Entre as ruínas de uma vida ou de regresso às emoções adormecidas?

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Livros cruzados

O «Beco das Sardinheiras» e o «Português errante» mudaram de mãos. O caderno de notas é que ainda está em branco. Para já terão que seguir as pistas de leitura que já foram postadas aqui no blog. O prometido questionário seguirá depois...

domingo, fevereiro 15, 2009

Oportunamente

René Magritte, Os amantes
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Como se sabe, é um grande alívio poder descarregar a raiva sobre alguém que não tenha culpa de nada; mas o que nem todos sabem é que isso também acontece com o amor. Passa-se aí exactamente o mesmo: o amor muitas vezes também precisa de ser descarregado sobre alguém que não tem culpa nenhuma, porque de outro modo corre o risco de não encontrar outra oportunidade.
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Robert Musil, O homem sem qualidades

sábado, fevereiro 14, 2009

Amantemente

Julião Sarmento

O amante

Onde o amante
se insinua
é dia

como um insecto procria
Vejo-lhe asas de vampiro

vagueia
amantemente
no circuito
aberto ao corpo
e à alma

Luiza Neto Jorge, Poesia

terça-feira, fevereiro 10, 2009

A caminho do...

mmmmmmmmmmm
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Proteu são cortadas,
mmmmmmmmmmm
Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em consílio glorioso,
Sobre as cousas futuras do Oriente.
(...)
Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto I, 19 e 20

domingo, fevereiro 08, 2009

Conjugar é preciso

GRAMÁTICA: O VERBO

Principal ou auxiliar, é o verbo que faz mover
o discurso, dando à existência a sua qualidade
activa, e transformando-a no ser idêntico
que reúne em cada sujeito e estado, sem
distinguir uma ideia de outra. Porém, a
conjugação dos tempos e modos multiplica
o que dizemos por nós, por vós e por eles,
desde o passado ao futuro; e no presente
em que o enunciamos, o verbo é ser o que
é, sem ter sido o que será, na definição
conjugada das pessoas que agem, sem
que o saibam, e das que sabem, sem agir.

Nuno Júdice, in A matéria do poema, 2008
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Aqui fica mais uma pista para o teste (é preciso saber conjugar...). E também uma sugestão de leitura, claro, deste livro de Nuno Júdice, que vale mesmo a pena descobrir. Mais uma vez agradeço à Paulinha, que me falou dele e me leu alguns poemas, o prazer da descoberta.


quarta-feira, fevereiro 04, 2009

As etiquetas possíveis

Manuel Alvess, Etiquettes (1972)
Os alunos do 9º A ainda empreenderam a errância, mas ao que parece deram num beco sem saída. E sem sardinheiras. Pelo que ficam aqui algumas etiquetas possíveis para orientar a leitura. Começo pelo Beco para chegar à abertura de um livro Errante.
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Pistas de leitura para o livro Casos do Beco das Sardinheiras
- O título como configurador de uma certa portugalidade.
- Pitoresco do espaço (personagens e elementos simbólicos de uma vivência típica/popular, assim como a linguagem que a delimita).
- Ambiguidade entre uma perspectiva crítica sobre a paisagem social e uma afectiva empatia pelas personagens e pelo seu mundo.
- O autor como cronista de um bairro, de um quotidiano (e os seus casos), de uma forma de vida.
- Traços de uma escrita irónica, humorística.
- Narrador que assume a sua função como exercício lúdico, jogando com a relação irónica entre criador (autor/narrador) e criaturas (personagens).
- Narrativa contaminada pela estranheza, pelo fantástico.
- Comparação do Portugal mítico e heróico convocado n’ Os Lusíadas com o confinamento do Beco das Sardinheiras.
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Pistas de leitura para o Livro do Português Errante
- Errância pela própria circunstância biográfica do autor/poeta.
- Escrita como errância pela língua, como busca do poeta para conquistar o poema, para trazer à “luz” da escrita o sentido.
- Errância pela literatura (Homero, Camões, Sophia, Cavafy, Shakespeare…).
- Errância por sentimentos / emoções (evocações interiores)
- Errância como reflexão sobre o mundo (evocações exteriores).
- Comparação entre a exaltação de um povo e de um país n’ Os Lusíadas com a manifesta decepção do sujeito poético pelo rumo que Portugal e os portugueses tomaram.
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domingo, fevereiro 01, 2009

Novos mundos ao mundo

Amadeo de Souza Cardoso, Barcos, 1913

II. HORIZONTE

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
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Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha
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O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa, Mensagem


Relacionar: Os Lusíadas / Descobrimentos / Renascimento