Mãe vem ouvir a minha cabeça a contar historias ricas, que ainda não viajei!! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue! Verdadeiro, encarnado!
Mãe ! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar, tenho sede!
Eu prometo saber viajar...
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens.
Aquelas que eu viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos as minhas e dá um nó cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa, como a mesa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe ! Passa a mão sobre a minha cabeça!
Quando passas a tua mão sobre a minha cabeça é tudo tão verdade.
Almada Negreiros, in Rosa do mundo
domingo, maio 04, 2008
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