terça-feira, outubro 05, 2010

Enfim o fim...

Na hesitação entre memória de um caminho percorrido pluralmente com os alunos daquela que foi a minha escola nos últimos anos e a consciência de que é inescapável o fechar de um ciclo, fui adiando as palavras finais. Não existe já um Agrupamento de Escolas de Cerva, suprimido em temos de gestão/administração no quadro político das fusões. Creio que também vai deixando de existir a escola de Cerva, - na sua dimensão humana, compósito de vontades, experiências e sentires - que coincidia apenas espacialmente com essa outra chamada Agrupamento, num processo de rasuramento do que era. Assim, ficamos por aqui aqui. Encontrar-nos-emos, porém, por aí...

domingo, maio 23, 2010

Entre textos

Poema à Mãe

No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.


Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

O que vos proponho é, pois, uma leitura deste texto em diálogo com o livro À Beira do Lago dos Encantos. Leitura intertextual. Entre o Lago dos Encantos e as «rosas brancas» do retatro na moldura, entre buscar o Longe e ir «com as aves», encontrarão, certamente, sentidos comuns. Procurar com o sentido da sensibilidade bem alerta é uma sugestão que fica.

terça-feira, maio 18, 2010

Entre o lago e o caminho

A peça À Beira do Lago dos Encantos passa-se num planeta desconhecido e distante, de Natureza semelhante à da Terra, mas existem lá elementos brancos, transparentes e impalpáveis. No planeta vivem um rapaz e uma rapariga – Ele e Ela, depois nomeados Adão e Eva – que não sabiam muita coisa da vida e tinham uma transparência interior.
Um dia apareceu lá numa nave João, um rapaz vindo da Terra. Depois, João, os Cinco Sentidos, o Vento, o Tempo e a Fada ajudam Adão e Eva a perceber o significado de algumas palavras que inventaram, a explorar o mundo que os rodeia, a ter mais imaginação, a descobrir a amizade.
Este planeta representa simbólica a vida dos adolescentes neste nosso planeta Terra, pois é nessa fase da vida que se quer saber mais, por isso eles queriam ir para o Longe, crescer, abrir-se à descoberta. Porém, por outro lado, esse
Para eles, este planeta, enquanto lugar da infância, era um espaço de segurança, por outro lado, enquanto processo de crescimento, funciona como território a explorar. Tal como Adão e Eva da Bíblia, eles habitam um paraíso que desconhecem e a obra retrata o momento em que começam a abrir as portas dos sentidos da vida.
Eles têm de crescer e deixar para trás o Lago dos Encantos (o tempo da infância), mas não querem deixar de ser transparentes por dentro, ou seja, querem preservar a inocência da infância guardando dentro de si a memória desse Lago dos Encantos.

Luís, Madalena, Nuno e Sara, 7.º (corte e costura do texto colectivo feito pela professora de Língua Portuguesa)

segunda-feira, maio 17, 2010

E afinal que lago é este?


Fica a pergunta em aberto para alunos que queiram procurar um sentido para o Lago dos Encantos.

domingo, maio 02, 2010

Onde vamos lendo?

Vamos descobrir mais um livro, talvez um planeta, longe e perto, dentro e fora da leitura. Porque o teatro também é a vida e todos nós passámos à beira do lago dos encantos.

sábado, março 27, 2010

Leituras+

No contexto dos respectivos planos individuais de leitura, e aproveitando o facto deste livro acompanhar o manual, os alunos do 7.º A e 7.º B leram-no em leitura autónoma, da qual entregaram a respectiva ficha de leitura. Lamento que alguns tenham optado pela batota do copy past de trabalhos encontrados na Internet (7.º A) e outros pelo copy past da ficha dos colegas. Ficam aqui dois bons exemplos, daqueles que leram mesmo e fizeram o resumo e o comentário crítico. Bastante diferentes, por sinal: a Sara (7.ºA) apresentou uma ficha de leitura muito extensa, contemplando um resumo de cada conto; a Ariana (7.º B) fez um resumo muito sintético, mas que não deixa de captar o essencial deste livro. No caso da Sara, fica apenas o resumo do conto «O Suave Milagre» por falar da figura celebrada na Páscoa.
lllllllll
«O suave milagre»

Há muito tempo, ainda quando Jesus estava na Galileia, contava-se que tinha nascido uma pessoa enviada por ele. Havia um homem chamado Obed, a quem o rebanho e a vinha tinham morrido por causa do vento. Então pensou que rabi o podia ajudar a acabar com a morte do rebanho e a por verdes as vinhas. Mandou os seus criados à procura, que receberam várias indicações, mas não deu em nada. Até Sétimo, centurião romano que comandava um forte, enviou um batalhão de soldados à sua procura para curar a filha, e nada.
Viviam num casebre uma viúva e o filho aleijado que passavam muitas dificuldades. Um dia um velho contou-lhes a história do rabi que fazia milagres, então o filho pediu à mãe que lhe trouxesse esse rabi. Aí ela contou-lhe que Obed e Sétimo o tinham mandado procurar em vão, mas o menino continuava a dizer à mãe que queria ver Jesus, e logo de seguida Jesus entrou e disse «Aqui estou.».


Comentário crítico sobre o livro:
Cada conto transmite uma moral muito importante. Nestes diferentes contos há pessoas que são muito bondosas e respeitadoras (exemplo: a aia), mas também pessoas invejosas que querem tudo para elas (exemplo: Rui e os irmãos, do conto «O Tesouro»). Aprendemos também que Jesus dá atenção a todos.
lllllll
Sara Costa
lllllllll
Resumo do livro:
Este livro conta a história de uma aia que era muito generosa, de três irmãos que eram tão "amigos" que depois acabam por se matar uns aos outros, de um rei que era muito rico e que deu tudo que tinha, de um rapaz que andava sempre aborrecido e que encontrou a sua paz no campo, e de um menino que acreditava que havia milagres e acreditou sempre até que um dia Jesus lhe apareceu.
llll
Ariana Gonçalves

domingo, março 21, 2010

Poesia a dias


Ana Hatherly

O PROBLEMA DE SER NORTE
lll
Era um verso com árvores à volta.
Tinha o problema de ser norte
e dia e tão contrário à natureza.
Era um verso sem ar livre
mas com árvores em círculo
e eu no centro, em baixo, nas escadas
de pedra, cheia de verde e de frio
e a pensar que continuo a não entender
a natureza contrária aos meus olhos.
Pois se as árvores são a única
paisagem deste verso, a toda a volta,
e eu no fundo, em baixo, nas escadas
de pedra ainda, se voltando-me, morrendo,
serão elas ainda a única paisagem deste verso,
como poderei amá-las
sem que
lll
um
raro
silêncio ainda
ll
me interrompa?
mmm
Filipa Leal, O Problema de Ser Norte, Deriva Editores
llll
llll
O POEMA
lll
I
ii
Esclarecendo que o poema
é um duelo agudíssimo
quero eu dizer um dedo
agudíssimo claro
apontando ao coração do homem
lll
(...)
ll
Luiza Neto Jorge, Poesia, Assíírio & Alvim