aaaaaaQuando Mademoiselle Nadine Fabre entrou para o táxi que a havia de levar ao São Carlos, para a primeira récita de Maria Callas, em Lisboa, estava João Queiroz a enfiar Narcisa para dentro do seu enorme Chrysler preto, ordenando ao chofer que seguisse a caminho da clínica. Mademoiselle Nadine Fabre sorriu ligeiramente para o vizinho, mas ele baixou apenas a cabeça, distraído. (...)
aaaaaaMas mesmo que tudo se tivesse passado assim — o que, evidentemente, ninguém hoje consegue garantir — Mademoiselle Nadine Fabre não teria dado por nada.
aaaaaaPorque Mademoiselle Nadine Fabre estava muito longe.
aaaaaaMademoiselle Nadine Fabre fechou os olhos, e dentro do táxi transformou-se em Maria, é grega, o avião em que viajou de Madrid para Lisboa acabou de aterrar na Portela, está uma multidão à sua espera. (...)
aaaaaaMademoiselle Nadine Fabre, agora de olhos bem abertos, gosta de sentir o cheiro dos perfumes no foyer do teatro, gosta de olhar para os espelhos, para as alcatifas, para as pinturas, para os dourados. Senta-se na poltrona de veludo vermelho que lhe coube em sorte e está a minutos, a segundos, da realização do grande sonho da sua vida: ouvir Maria Callas ao vivo, a cantar La Traviata.
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Alice Vieira, Um fio de fumo nos confins do mar
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