domingo, junho 22, 2008

Turma Ler+


Com o ano lectivo a chegar ao fim, podemos já anunciar que, no "campeonato" das turmas da professora Inês de Castro, o 8º B foi a turma que apresentou mais fichas de leitura (49), seguida de perto pelo 8º A (45) e, finalmente, o 9º A (24). O 9º A foi, de facto, a turma onde mais alunos não cumpriram o acordado no contrato de leitura assinado no início do ano lectivo, o que revela uma significativa falta de responsabilidade face aos compromissos e metas pessoais. Nos oitavos anos, houve uma maior adesão a este programa de leitura, apresentando alguns alunos um interesse mais entusiástico, manifestado espontaneamente em conversas sobre livros no final das aulas.
Para aqueles que já entraram no fabuloso mundo dos livros, resta-me desejar uma profícua viagem literária. Aos que ainda receiam aventurar-se nos caminhos desconhecidos da leitura incito mais uma vez a ousarem descobrir o prazer da leitura.
Bons livros, boas leituras!

quarta-feira, junho 18, 2008

Almada em palavras


ULTIMATUM FUTURISTA
ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI

(...)
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas!
Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos!
Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"!
Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos!
Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista!
Criem a vossa experiência e sereis os maiores!
Morram todos os derrotismos!
Morram! PIM!
J o s é d e A l m a d a N e g r e i r o s

P O E T A

F U T U R I S T A
E
T U D O

terça-feira, junho 17, 2008

Almada a cores...

Vitral da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa
Maternidade, 1935
Retrato do Poeta Fernando Pessoa, 1954

Parte do triptico "Nau da Catrineta" (1945), da gare marítima de Alcântara


As visões plásticas de Almada Negreiros...
"Pintar é falar consigo mesmo para que alguém nos entenda." (1934)

sexta-feira, junho 13, 2008

Almada Negreiros

A propósito da leitura de Antes de Começar, pedi aos alunos do 8º A e B que fizessem uma pesquisa sobre Almada Negreiros para ficarem a conhecer melhor o autor desta obra. Até agora, e apenas do 8º A, chegaram-me as informações de que ele era "pintor e escritor" (Sandra e Olívia), "poeta e dramaturgo" (José Pedro e Luís Kuski), "autor de obras como o Manifesto Anti-Dantas" (Luís Faria). Este extraordinário e multifacetado artista merecia mais interesse. Continuo à espera de mais... Um PowerPoint com uma pequena biografia do autor e imagens da sua obra para mostrar à turma a diversidade e riqueza do seu trabalho artístico era uma boa ideia. Quem se atreve?

"Mas eles vêem-me mal por fora, porque não sabem como eu sou por dentro... Ninguém sabe ver-me!..."
Almada Negreiros, Antes de Começar

terça-feira, junho 10, 2008

Portugal


Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me
sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os
infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe
atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira que o
Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt
Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do
Príncipe Valente
Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino
nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos
espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se
contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um
resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar
uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e
idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os
pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder
espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar
estava no poder nada de ressentimentos
o meu irmão esteve na guerra tenho amigos que
emigraram nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os
Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propôr-te um projecto eminentemente
nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que
Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca


Jorge de Sousa Braga, O Poeta Nu, Ed. Fenda, 1991

domingo, junho 01, 2008

Ainda aqui a infância


Paula Rego

MINHA FILHA OU A CORES

Minha filha com olhos de
rainha,
cabelos de princesa

As palavras macias,
peregrinas,
brincando-se no palco
entre papel e
mesa

Um cordel entrançado
a linha de ouro
que pudesse medir
esta distância:
a que s lança entre papel
e tu.

Minha filha de
infância em finos
sons.

Um cordão entrançado
a fia de prata,
a malha reticente
e apertada
que nada
era a princesa.

Palavras
na infância
do falar:
«Minha». Tão devagar:

E o resto
tricotado
a azul turquesa.

Ana Luísa Amaral, Às Vezes o Paraíso, Quetzal Editores