- Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?
- Nunca reparei - disse a rapariga.
- Nunca ficaste a olhar o mar muito tempo?
- Sim, já fiquei.
- Ou o lume de um fogão? - disse o rapaz.
- E que queres dizer com isso?
- Ou uma flor. Ou ouvir um pássaro cantar.
- Sim, sim.
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar horas a olhar e não me cansar da sua monotonia.
mmmmmmmmmmm
Excerto de Uma esplanada sobre o mar, de Vergílio Ferreira
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Neste excerto salienta-se a diferença entre o olhar, ver e reparar. Há um outro grande romancista português, José Saramago, que fala desta distinção de olhares na contracapa de um dos seus livros. Qual dos alunos do 9º ano descobre o livro e traz essa frase para trabalharmos na aula, em intertextualidade com o conto de Vergílio Ferreira?
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