quinta-feira, setembro 25, 2008

Eu queria fazer este azul

Receita para fazer o azul

Se quiseres fazer azul, pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de oiro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz — eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé — e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.
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Nuno Júdice, Meditação Sobre Ruínas, Quetzal 1994
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Era bom poder conseguir este azul, assim, que conservasse a memória do tempo, que resistisse à ruína de hoje. E uma porta. Uma porta para fora do impossível disto tudo. Uma porta para dentro de um livro onde pudesse perder-me. Pois é, meninos, o azul pose ser inacessível a um tempo sem tempo para "imitar o céu", mas a porta dos livros está aberta.

domingo, setembro 21, 2008

E se...

Luz

Talvez que noutro mundo, noutro livro,
tu não tenhas morrido
e talvez nesse livro não escrito
nem tu nem eu tenhamos existido

Manuel António Pina, in Os Livros, Assírio & Alvim, 2005.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Prontos para a nova colecção de leituras 2008/2009?

Almada Negreiros
Regressamos às leituras, que de outros divertimentos se fizeram as férias da maioria de nós, mas o aproximar do Outono pede-nos esse recolhimento de um livro, aproveitando, num espaço só nosso, o saborear da substância mágica e viciante das palavras. E a escola, com a nova biblioteca (ainda não há fotos porque não está totalmente pronta), abrirá certamente novas possiblilidades, "triplicando o saldo" dos leitores. E não faltam boas razões para ler:

“Não há melhor fragata que um livro para nos levar a terras distantes.” Emily Dickinson

“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.” Jorge Luis Borges

“Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia.” Carl Sagan

“Uma casa sem livros é como um quarto sem janelas.” Heinrich Mann

“Ler um livro é para o bom leitor conhecer a pessoa e o modo de pensar de alguém que lhe é estranho. É procurar compreendê-lo e, sempre que possível, fazer dele um amigo.” Hermann Hesse