quinta-feira, outubro 30, 2008

Quem quer "alinhar"?


CONCURSO NACIONAL DE LEITURA

«Tal como sucedeu em anos anteriores, e levando em conta a necessidade de promover a leitura nas escolas de uma forma lúdica, o Plano Nacional de Leitura – em articulação com a RTP, com a DGLB/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas e com a rede das Bibliotecas Escolares promove, no ano lectivo de 2008 / 2009, o Concurso Nacional de Leitura. Tendo como objectivo estimular a prática da leitura entre os alunos do Ensino Secundário e do 3º Ciclo do Ensino Básico, o concurso pretende avaliar a leitura de obras literárias pelos estudantes desses graus de ensino.
O Concurso Nacional de Leitura decorrerá em três fases diferentes: a 1ª Fase, a realizar nas escolas; a 2ª Fase, a realizar nas Bibliotecas Municipais designadas pela DGLB; e a 3ª Fase, correspondente à Final Nacional, realizada em Lisboa em colaboração com a RTP.»
in Regulamento do Concurso Nacional de Leitura 2008/2009
1ª Fase- Escolas- 15 de Outubro de 2008 a 9 de Janeiro de 2009.
2ª Fase- Bibliotecas Públicas -Fevereiro e Março de 2009.
3ª Fase- Provas Finais - Maio de 2009.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Quem dança?

Paula Rego
Ora digam lá que conto do livro Novos Contos da Montanha pode ser ilustrado por este quadro de Paula Rego. E expliquem-me por que razão podemos fazer essa associação. Na próxima aula de Língua Portuguesa, pode ser?

quarta-feira, outubro 22, 2008

Mariana

Paula Rego

- Não te fazia agora por estes sítios - começou o Lopo, a enrolar um cigarro forte. Mariana sentiu outra vez o sangue a ferver-lhe pelas veias fora. A fogueira precisava de lenha.
- E se nós fôssemos a uma meda de rama, que há ali adiante, buscar um braçado dela?
Mariana calou-se. O lume, por dentro, continuava a queimá-la.
- Põe aí o pequeno - ordenou ele. Ela obedeceu. E, logo adiante, num valado, sobre
gabelas secas de mato, o seu corpo serenou.
(...)
- Essa mulher continua na mesma vida? - perguntou na sala a Marília, que acabara de chegar do colégio com um selo branco na virgindade. _ Pois continua...
- Pouca vergonha maior!
- Que se lhe há-de fazer?

- Tirar-lhe as crianças e metê-las num asilo.
Miguel Torga, «Mariana», Novos Contos da Montanha

Hoje os alunos do 9ºA, em Área de Projecto, leram este conto para reflectir sobre os comportamentos sexuais, o seu impacto no percurso de vida e a reacção social a esses comportamentos. O Ricardo achou que ela era ninfomaníaca porque tinha uma vida sexual muito activa com diferentes parceiros sexuais; o Luís Faria sublinhou o facto da sua vivência sexual ter uma dimensão puramente física, desligada dos afectos; a Lúcia achou-a uma irresponsável porque tinha relações sexuais com qualquer um e sem protecção (e o Luís Kuski questionou se na época retratada já existiria o preservativo); o Guilherme realçou o facto de, dessas relações, nascerem muitos filhos, o que aumentava ainda mais a censura social. Outros mais intervieram (a Carina, a Márcia, a Cristina, a Marie-line...), outros ficaram mais calados... Mas é preciso pensar e participar!

segunda-feira, outubro 20, 2008

Um olhar cinematográfico sobre Trás-os-Montes




Excertos do filme Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro. Um outro olhar sobre a montanha e as suas gentes. Esta narrativa é mais visual, mas não deixa de se cruzar com o mundo evocado nos contos de Miguel Torga.

Viagem aos contos de Miguel Torga

Os alunos do 9ºA iniciaram hoje uma nova "viagem" literária, desta vez ao mundo literário de Miguel Torga. Os Novos Contos da Montanha (1944) são o nosso destino de leitura.
Neste primeiro dia, alguns alunos responderam ao desafio de pesquisarem, durante o fim de semana, sobre a vida e obra do autor e foram contando aos colegas as suas descobertas biobibliográficas. A Cristina sabia que ele nasceu em 1907, em S.Martinho de Anta, em Vila Real (aqui bem perto, portanto) e que morreu em 1995, em Coimbra; a Márcia sabia muitas coisas: que, originário de uma família humilde, emigrara para o Brasil com 12 anos para trabalhar na fazenda do tio durante cinco anos, que regressara a Portugal para estudar em Coimbra, onde se formou em Medicina e onde exerceu a profissão de médico durante toda a sua vida; o Guilherme lembrou que Miguel Torga era um pseudónimo de Adolfo Correia Rocha e o Brandon, recorrendo aos apontamentos, explicou que o nome "Miguel" era uma homenagem a Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno (dois grandes escritores espanhóis admirados pelo autor) e que "Torga" (designação nortenha de urze) evocava a paisagem bravia da montanha transmontana, árida e rochosa; o Luís acrescentou que um dos livros pelos quais é mais conhecido é a obra Os Bichos (1940).
Esta obra, recomendada pelo programa de português do 9º ano de escolaridade, retrata a dureza do mundo rural português através de uma linguagem simples mas cuidada. São histórias que giram em torno de personagens duras e bravias como a terra, tendo como cenário de fundo a paisagem transmontana, e que falam dos conflitos humanos: sejam eles vividos no interior de si próprios, ou sejam o reflexo do seu confronto com as leis divinas e terrestres que os condicionam, limitando os seus horizontes humanos.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Uma janela aberta sobre um texto-esplanada

Salvador Dali

Um último "olhar" sobre Uma esplanada sobre o mar, através das opiniões de algumas alunas do 9º A sobre este texto tão impressivo de Vergílio Ferreira:

A mensagem que o conto nos transmite é que por vezes as coisas mais banais da vida são mesmo as mais importantes: como dizer uma palavra bonita ou mesmo um elogio às pessoas de quem se gosta. Os bens materiais são coisas fúteis que nada têm a ver com os valores emocionais – o amor que damos aos outros, o carinho que partilhamos com um sorriso ou uma lágrima – que constroem a nossa felicidade. São essas coisas invisíveis aos nossos olhos que, na verdade, são as mais importantes!
Márcia Carvalho

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Por vezes pensamos que há coisas insignificantes para nós, mas se as olharmos de outra maneira, talvez achemos o contrário. Este conto de Vergílio Ferreira transmite também a ideia de que as pessoas só começam a dar o verdadeiro valor às coisas quando as perdem.
Carina Silva

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Acho que é uma história muito bonita, mas com um final muito trágico. E dá-nos uma lição: temos de dar mais valor às coisas e aprender a reparar nas coisas que temos à nossa volta.
Ana Machado

domingo, outubro 12, 2008

A explicação é simples

Marc Chagall
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- Sim. Mas explica tudo muito bem.Desde o princípio. Devagarinho.
Vergílio Ferreira, in Uma esplanada sobre o mar
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Chamei-te. O mar estacou o seu rumor
e entrámos juntos no umbral
da eternidade. As sombras
envolveram-nos, e na lenta
despedida dos teus olhos
o mar retomou a sua terna música.
(....)
Luís Quintais, in A Imprecisa Melancolia

quinta-feira, outubro 09, 2008

Ainda o olhar que vê

René Magritte, «O espelho falso», 1935

O Guilherme, sempre atento ao «leiturascruzadas», trouxe-nos a citação de Saramago, da contracapa do livro Ensaio sobre a Cegueira, que nos fala do olhar que vê:

«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.»
Livro dos Conselhos


E depois falámos um pouco do livro, que os alunos do 9ºA não conheciam, e lemos alguns excertos. E retivemos este, do final do livro, que de alguma forma revela o sentido da metáfora da cegueira:

«Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.»
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José Saramago, in Ensaio sobre a Cegueira, Lisboa, Editorial Caminho, 1995, p. 310.

domingo, outubro 05, 2008

E depois do depois: as memórias



«Mesmo as coisas mais banais são diferentes se alguma coisa importante se passou em nós.»

In Esplanada sobre o mar, de Vergílio Ferreira

"E três meses no máximo"



Excerto de Sweet November, do Realizador Pat O`Connor, com Keanu Reeves e Charlize Theron.

«Pôs-lhe a mão no braço e olhava-o fixamente. Ele olhou-a também e ambos ficaram a tentar entender-se em silêncio.»

In Uma Esplanada sobre o mar, de Vergílio Ferreira

sexta-feira, outubro 03, 2008

Uma esplanada sobre o mar

Foto: Manuela Leite

- Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?
- Nunca reparei - disse a rapariga.
- Nunca ficaste a olhar o mar muito tempo?
- Sim, já fiquei.
- Ou o lume de um fogão? - disse o rapaz.
- E que queres dizer com isso?
- Ou uma flor. Ou ouvir um pássaro cantar.
- Sim, sim.
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar horas a olhar e não me cansar da sua monotonia.
mmmmmmmmmmm
Excerto de Uma esplanada sobre o mar, de Vergílio Ferreira
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Neste excerto salienta-se a diferença entre o olhar, ver e reparar. Há um outro grande romancista português, José Saramago, que fala desta distinção de olhares na contracapa de um dos seus livros. Qual dos alunos do 9º ano descobre o livro e traz essa frase para trabalharmos na aula, em intertextualidade com o conto de Vergílio Ferreira?